As Religiões Africanas no Brasil. Roger Bastide.


Essa é aquela leitura fundamental para o empoderamento negro no Brasil. Recomendo-o para o estudo sobre o Candomblé e sobre a Umbanda.

Recomendo principalmente para todo cristão evangélico, católico, kardecista e/ou espírita. A leitura traz uma análise puramente social e antropológica para que nós, negros, estejamos inter-relacionados com nossa própria origem, seja lá qual for a religião exercida por nós ou pela nossa família.

Roger Bastide foi um autor francês que chegou ao Brasil para uma missão acadêmica de professores europeus que lecionavam Filosofia e Sociologia. Sua vinda a recém-criada Universidade de São Paulo (USP) em 1938 trouxe consigo diversas teorias europeias que mesclaram seu conceito europeu sobre a religião, com a prática afro-brasileira vigente naquele período. Sua produção teórica no Brasil tem como elemento fundamental de análise o negro descendente dos escravos em todas as suas instâncias, religiosas, sociais e/ou antropológicas. Durante seus 17 anos no nosso país, Bastide publicou diversas obras sobre o Candomblé, a Umbanda, sobre as relações interraciais entre negros e brancos, sobre a influência da religião africana na América do Sul, entre outros temas. Seu trabalho surgiu de uma intensa internalização individual na cultura afro-brasileira. A ele foi concedida a condição de autor "negro" através de sua aceitação no que se refere à "seitas religiosas" africanas. Se tornou parte constitutiva da religião, se tornando um irmão de fé, para que assim, através da sua experiência, pudesse descrever o sentimento religioso com a ausência da seu contexto original.

O principal autor ao qual Bastide se refere ao analisar a necessidade da religião africana é Karl Marx. Em seus estudos a respeito da necessidade empírica da religião dentro de uma sociedade, Bastide cita Marx usando a expressão: "A miséria religiosa é, por um lado, a expressão da miséria real, e do outro, o protesto contra essa mesma miséria. A religião é o suspiro da criatura acabrunhada pela desgraça". O objetivo de Bastide é complementar as conclusões de Marx a cerca da religião e expor que a mesma, dentro de uma sociedade, nem sempre é sinônimo da presença do medo, mas sim a representação da força. A religião africana tornou-se no Brasil uma espécie de "subcultura" de grupo que atendia às necessidades de coletivização dos descendentes dos escravos. Ela é considerada um instrumento chave na luta de classes onde o escravo resiste à subordinação econômica e social. Apesar do catolicismo ser a religião patriarca dentro do sistema escravocrata brasileiro, a religião africana sobreviveu implícita às práticas católicas doutrinadoras, se tornando células vivas e pulsantes no reger da cultura brasileira.

Particularmente, existem ressalvas quanto à enculturação de Roger Bastide, um francês da elite acadêmica, ao universo que circunda a religião africana no Brasil. É absolutamente possível chamá-la de apropriação cultural, visto que sua cultura original era completamente aquém de sua cultura adquirida. Entretanto, vale ressaltar que, a apropriação cultural também pode construir uma perspectiva positiva daquilo que é apropriado. O trabalho de Bastide contrapõe a ideia de que a religião africana era fraca ou imperceptível ao olhos da maioria cristã.




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